Conheci a Ana num parque, em Los Gatos, California. Nossos filhos –ambos com 3 anos – brincando na areia e a Ana amamentando seu bebê, o Felix. Amamentava na boa; sem paninho ou avental, lendo um livro. Ambas sentadas quase lado a lado – a ouço falar português com seu filho… pronto! Ficou fácil minha aproximação dessa mulher exótica, intrigante, de dread e tatuagem. Amei! Ela vai ser minha amiga!
Ana cresceu numa família onde as mulheres foram criadas para serem independentes. Sua avó materna foi a primeira mulher médica formada de São José do Rio Preto. As mulheres de sua família se orgulhavam em dizer que não sabiam nem se quer fazer arroz. Serviço doméstico, ser dona-de-casa era pejorativo.
Ana Luiza se formou em Moda e Fotografia, no Brasil. Ela e mais 3 amigos da faculdade formaram a grife P´Tit, em São Paulo.
P´Tit nasceu do enorme talento e paixão desses 4 amigos e artistas da moda -Anna O, Fernanda Padin, (depois Carol Marinoni), Heloísa Faria e Leonardo Negrão . Através da técnica de Moulage eles transformavam roupas antigas com muita criatividade. Ana se lembra de um dia sair da casa de sua avó com 13 sacos de roupas vintage em direção a seu ateliê! P’Tit deu muito ibope, trouxe muita satisfação pessoal e profissional a Anna O – seu nome artístico.
E onde está a Anna O hoje?! Ela esta dentro da Ana mãe, esposa, amiga. Dentro dessa mulher brasileira expatriada incrível. Ana escolheu conhecer o mundo com Fernando. Isso significou deixar o P´Tit, algo que ainda dói. Mas, ´ou isso ou aquilo´. Em Londres, nasceu o Tom, no Vale do Silício, o Felix – esse nasceu em casa, as pressas, com o Fernando fazendo o parto do próprio filho, o pessoal do 911 na linha:
_Calma! Voce está de tênis?
_Tô!
_ Então, agora tira o cadarço do teu tênis e o use para amarrar o cordão umbilical!
(Oi?! Fala sério?! Isso é verídico, galera rs!)
Um casal que quando se encontrou não queria se casar ou muito menos ter filhos. Ana está grávida do terceiro menino e o plano é ter 4 filhos! O que transformou a Anna O? A maternidade. Cuidar de seus filhos ela mesma, abdicar de suas capacidades criativas – ou melhor empenhá-las em outros meios. Tudo isso se concretiza na mulher que Ana é hoje. Ela não vê nada pejorativo em ser mãe, em não ter um trabalho remunerado. Está fazendo o contrário do que lhe foi ensinado em sua infância. Fácil não é, confira com a Ana:
´Com 17 anos fui morar em uma república: nunca tinha ligado uma máquina de lavar roupa! Minha melhor amiga sempre lembra de mim dizendo que não casaria ou teria filhos: casei aos 23, tô indo pro terceiro filho… aconteceu de encontrar a tampa da minha panela e de querer perpetuar toda a nossa “excentricidade peculiar” (Somos vegetarianos, não temos TV, nossos filhos não usam eletrônicos, não comem açucar…).´
´Pra quem vê de fora tudo parece muito normal: fico em casa cuidando dos filhos, marido vai trabalhar; quem vê de perto aprecia a minha luta diária entre o mundo de fantasia que vivo dentro da minha cabeça e a realidade de ser ´stay-home-mom´. Vivo na ansiedade de quando vou poder dar a próxima alfinetada em um dos belos e raros tecidos que colecionei ao longo da vida e a angústia de ver as coisas mais lindas do mundo crescerem tão rápido e ao mesmo tempo, de uma maneira tão intensa.´ Ana Luiza Eu não conheço nenhuma mulher mais sem preconceitos do que a Ana. Ela tem um coração puro e uma mente brilhante. Também não conheço ninguém mais louca! Sendo assim, Ana Luiza Correa é minha colaboradora no Café com Abraço. Quando ela fala no Café, com seu jeito todo displicente e sem pretensões: TODO MUNDO A OUVE. Minha amiga Ana Luiza, é uma mulher e tanto!
Adri xxx